Com mais de duas décadas de experiência na Medicina do Trabalho, posso afirmar que a violência e o assédio moral no ambiente laboral são questões sérias e que exigem atenção tanto dos empregadores quanto dos trabalhadores. Essas práticas afetam diretamente a saúde física e mental dos profissionais e comprometem a integridade do ambiente corporativo.

O que caracteriza a violência e o assédio moral no trabalho?

De acordo com diretrizes da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o termo “violência e assédio” engloba qualquer comportamento inaceitável — isolado ou repetido — que possa causar danos físicos, psicológicos, sexuais ou patrimoniais. Esses atos comprometem a dignidade e os direitos fundamentais das vítimas.

No contexto específico do assédio moral, estamos falando de atitudes abusivas e humilhantes, expressas por meio de palavras, gestos ou ações que geram constrangimento, medo, exclusão ou sofrimento emocional. Essas condutas podem resultar em adoecimento, queda no desempenho e até em afastamento do trabalho.

Quais são os tipos mais comuns?

Podemos classificar o assédio moral em duas formas principais:

Interpessoal: Ocorre entre indivíduos — seja entre colegas ou entre liderança e subordinados. Exemplos comuns incluem: Isolamento intencional de um trabalhador, deixando-o sem função ou contato com a equipe. Uso de gritos, ofensas ou humilhações constantes por parte da chefia.

Organizacional: Refere-se a práticas institucionais abusivas que afetam grupos de trabalhadores. São estratégias ligadas à gestão com foco extremo em produtividade ou redução de custos, como:

  • Estabelecimento de metas inalcançáveis, acompanhadas de punições vexatórias.
  • Divulgação de rankings de desempenho que expõem publicamente os “piores” resultados.
  • Regras de trabalho antiéticas, como controle excessivo de pausas ou uso do banheiro.
  • Adoção de “brincadeiras” constrangedoras como forma de punição simbólica.

É importante lembrar: a simples cobrança por resultados não caracteriza, por si só, assédio moral. O problema está na forma desrespeitosa, abusiva ou humilhante com que essa cobrança é conduzida.

Como médico do trabalho, reforço a importância de promover ambientes saudáveis, onde o respeito, a ética e a dignidade prevaleçam. Empresas que investem em cultura organizacional positiva colhem benefícios em produtividade, clima organizacional e saúde dos seus colaboradores.

Se você identifica sinais de violência ou assédio moral no seu ambiente de trabalho, procure apoio — tanto jurídico quanto médico. O acolhimento e a orientação correta fazem toda a diferença na recuperação e na prevenção de novos casos.

É importante lembrar que a inclusão dos riscos psicossociais no Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), além de atender às exigências da NR-01, é um passo essencial para iniciar um processo real e efetivo de promoção da saúde mental no trabalho.